O homem

O homem. Aquele homem simples, sem estudos, sem modos, acordava cedo. Rezava. Lavava o rosto. Tirava o leite das vacas. Punha milho para as galinhas, lavagem para os porcos, palma para o gado. Depois, pegava a marmita, a enxada e seguia seu rumo em direção à roça. Chegando lá, com todo amor e carinho, pegava seu instrumento e cortava a terra, arrancando dela gemidos de dor. Mas era necessário… Para que dela brotasse vida, era necessário feri-la. O homem então colocava gentilmente as sementes que germinariam e garantiriam o sustento seu e de sua mulher. Já era meio-dia. Era hora de almoçar. Feijão, farinha e rapadura. Que delícia era se sentar debaixo do juazeiro e comer aquele manjar que a mulher fizera! A brisa quente do sertão tocando seu rosto… Depois, era descansar e voltar ao trabalho.

Sozinho, sob o Sol, com a graça de Deus, o homem tinha esperanças de que em breve começaria a chover. Que tempos bons viriam e que dessa vez a mulher não perderia mais um filho. A esperança movia aquele homem. A cada minuto de seu dia. A cada gota de suor. A cada sorriso. A cada lágrima. A esperança chegava a lhe ferir o peito tamanha era sua intensidade. Sonhava em ver seus filhos com saúde, aprendendo a andar e a lhe chamar de papai, brincando com os filhos do vizinho, pondo alegria e preenchendo de amor e afeto sua vida seca e dura. Dura como a terra do sertão. Mas tinha de voltar para a roça. Rasgar a terra e rezar para que chovesse.

No fim do dia, o homem pegava suas tralhas e voltava para casa. Satisfeito, pois havia cumprido sua missão. Ao chegar, com o céu já avermelhado, tomava banho e ligava o radiozinho de pilha. Ouvia notícias, músicas e histórias. Que vida boa! Depois, jantava e ia contemplar aquele céu estrelado que só poderia ser visto do seu quintal e ficava ali agradecido, pois via o quanto Deus era bom em lhe dar uma imensidão como aquela de presente. O que esperar mais da vida? Aquele homem simples tinha sonhos pequenos. Não exigia mais nada. Tudo para ele era bom. A esposa amada. O sol de rachar. O vento quente. As tarefas árduas do dia a dia. O canto dos pássaros. O céu estrado. A lua brilhante. A chuva escassa. Aquele homem, no seu universo, não precisava de mais nada. Mesmo sem os filhos, que tanto desejava, era feliz. Feliz e agradecido.

Mais tarde, era hora de entrar. Então ele e sua mulher faziam amor. Como era bom sentir o cheiro de Rita, o toque de sua pele, ouvir ela fazer declarações ao seu ouvido! Então João adormecia. E esperava por mais um dia. Um dia de sol. Um dia de trabalho. Um dia de luta! Um dia de esperança…

Samuel Cândido

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