Algumas palavras, numa manhã de dezembro

Nasci numa noite de quarta-feira de 1988.
Sempre fui reservado. Procurei não causar incômodo.
Minha personalidade, aparentemente calma e tranquila, conquistou a muitos.
E incomodou a outros.
Mas a verdade é que dentro de mim sempre houve lutas de forças antagônicas.
Que se ferem e que ferem a mim mesmo. Num processo contínuo de renovação.
De dor e sofrimento.
De cura e absolvição.
Alguns diriam que isso é sinal de que vivi muitas vidas.
Talvez tenha vivido mesmo. Muitas vidas em uma.
Chorei demais. Me calei demais. Cheguei no meu limite.
Enlouqueci.
E enlouquecendo percebi coisas que não via antes.
Vi o quanto somos ignorantes sobre nós mesmos.
Tenho observado, ultimamente, que não existem sentimentos plenos.
Tudo é relativizado no contexto social cotidiano.
Somos todos vítimas. Somos todos vilões.
E em meio a esse processo, fui ferido mortalmente.
Mas sobrevivi, paradoxalmente.
As consequências disso só o tempo irá dizer.
As feridas e as cicatrizes estão aqui, no meu peito.
Os amores não vividos. As palavras não ditas.
As decepções.
O ódio guardado. A omissão a mim mesmo.
Lembro-me de ter lido, há pouco mais de um ano, O Pequeno Príncipe.
A célebre fala da raposa ficou por muito tempo sem ter sentido em minha cabeça.
“Cativa-me”.
Só depois descobri que cativar significa, obviamente, pôr em cativeiro.
Ser cuidado, alimentado, aprisionado.
Foi então que percebi algo em relação a minha vida.
Cativei muitas pessoas, mas não fora cativado.
E talvez seja isso que venho buscando a vida toda.
E se tem de ser assim, então.
Cative-me!

 

Samuel Cândido

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