Carta para Deus

Querido Deus,
Que eu possa ser uma pessoa melhor, menos egoísta.
Que neste novo ano que se inicia eu possa rever meus princípios, minhas convicções.
E, que ao fazer essa análise, eu aprenda com meus erros.
Que eu perceba que as minhas verdades não são absolutas.
Que eu entenda que o outro pode estar certo,
E que juntos podemos fazer mais um pelo outro.
Que este Natal não seja apenas uma data para dar e receber presentes.
Que os presentes mais valiosos sejam aqueles que não podem ser embrulhados
E sim os que transcendem a existência humana.
Deus. Meu Deus,
Me faça ver o mundo de um jeito mais parecido com o seu
Para que, caminhando na multidão, eu possa ajudar meus irmãos,
E amá-los sinceramente.
Que tudo que me faz uma pessoa ruim fique para traz.
Não porque eu queira ser perfeito.
Mas porque quero ser mais humano.
Que eu me permita ser feliz, sem medo do que vão pensar.
E que mesmo rindo e apontando para mim
Eu siga firme em meus propósitos.
Que eu saiba valorizar mais os meus amigos, a minha família.
Porque são eles que me aceitam e me suportam
Mesmo quando perco a cabeça e os magoo.
Que o bem que eu faça se multiplique e toque o coração das pessoas.
Que o bom humor seja meu mais fiel companheiro.
Que as lágrimas me ensinem,
Que as feridas me fortaleçam,
E que a humilhação me eleve.
Meu caro Amigo,
Quero fazer o bem sem esperar retorno.
Que meu coração se encha de amor por todo a vida.
E que sendo feliz eu possa fazer os outros felizes.
Porque é ao bem que eu quero abraçar.
Porque é do bem que eu sou.
E, isso é muito importante, que eu possa perdoar.
Perdoar mesmo sabendo que há vasos que não podem ser restaurados,
Que meu coração e minha mente podem não se recuperar.
E, também, que eu me perdoe.
Que eu me ame.
Que eu me permita ser feliz.
Porque se eu não o fizer, jamais o farei ao outro também.
Deus,
Não quero prometer nada porque sou falho.
Que eu apenas ame.
Que o amor e eu sejamos um.
Que meus irmãos ao redor do mundo percebam
Que não há raça, sexo, credo, origem ou erro
Que justifique a morte de quem quer que seja.
E tudo que pedi para mim, também peço para eles.
Não foi um ano fácil, Você sabe.
Tanta coisa aconteceu…
Que bom que sobrevivi,
Apenas te peço que console os que ficaram e guarde bem os que se foram.
E, já chegando ao fim desta carta, queria te agradecer.
Muito obrigado!
Por tudo e por todos.
Obrigado.
Não solte minha mão!

Samuel Cândido

Algumas palavras, numa manhã de dezembro

Nasci numa noite de quarta-feira de 1988.
Sempre fui reservado. Procurei não causar incômodo.
Minha personalidade, aparentemente calma e tranquila, conquistou a muitos.
E incomodou a outros.
Mas a verdade é que dentro de mim sempre houve lutas de forças antagônicas.
Que se ferem e que ferem a mim mesmo. Num processo contínuo de renovação.
De dor e sofrimento.
De cura e absolvição.
Alguns diriam que isso é sinal de que vivi muitas vidas.
Talvez tenha vivido mesmo. Muitas vidas em uma.
Chorei demais. Me calei demais. Cheguei no meu limite.
Enlouqueci.
E enlouquecendo percebi coisas que não via antes.
Vi o quanto somos ignorantes sobre nós mesmos.
Tenho observado, ultimamente, que não existem sentimentos plenos.
Tudo é relativizado no contexto social cotidiano.
Somos todos vítimas. Somos todos vilões.
E em meio a esse processo, fui ferido mortalmente.
Mas sobrevivi, paradoxalmente.
As consequências disso só o tempo irá dizer.
As feridas e as cicatrizes estão aqui, no meu peito.
Os amores não vividos. As palavras não ditas.
As decepções.
O ódio guardado. A omissão a mim mesmo.
Lembro-me de ter lido, há pouco mais de um ano, O Pequeno Príncipe.
A célebre fala da raposa ficou por muito tempo sem ter sentido em minha cabeça.
“Cativa-me”.
Só depois descobri que cativar significa, obviamente, pôr em cativeiro.
Ser cuidado, alimentado, aprisionado.
Foi então que percebi algo em relação a minha vida.
Cativei muitas pessoas, mas não fora cativado.
E talvez seja isso que venho buscando a vida toda.
E se tem de ser assim, então.
Cative-me!

 

Samuel Cândido